31 julho 2007

Uma morte tranquila



imagem aqui
«Com Antonioni morre não só um dos maiores realizadores, mas também um mestre da modernidade», diz Walter Veltroni (ler mais aqui).
O King repõe nos próximos dias alguns dos seus filmes mais conhecidos.

Ler para crer

Não sei se agradeça à Siona pela informação se a maldiga por me ter aberto a janela para descobrir a quantidade de gente ignorante, burra e maldosa que existe por aí.
Através do seu post descobri a caixa de comentários do destak, a propósito de uma notícia sobre a mutilação genital feminina na Guiné-bissau. Encontram-se por lá pérolas deste calibre: "Não vejo qualquer inconveniente [na] prática do fanado pois as mulheres mantêm intacta a capacidade de parir.", "A remoção do clitoris não é prejudicial porque não implica que as mulheres não possam ter filhos.", "Acho que a remoção do clítoris tem a vantagem de contribuir para diminuir os casos de adultério por parte das mulheres".

30 julho 2007

F/M

E os homens quando querem pôr postiços vão aonde? Cabeleireira/o ou barbeiro/a????

Comida viva

imagem daqui
Mosquitos, essa espécie irritante que não faz falta nenhuma ao ecossistema urbano, a não ser às farmacêuticas que produzem "calmante de picada de insectos" absolutamente ineficazes. Até gosto da natureza, dos passarinhos, do verde e tal, mas isto é demais!!

Sweet oblivion

Ela ali ao meu lado, a mostrar-me como o mundo lhe parecia todo ao contrário, às avessas, não sabia se torto em linhas direitas se direito por linhas tortas, sem saber como descer, como subir, como caminhar para a frente, trás, lados, sem haver um mapa que a guiasse.
Ela ali ao meu lado, a mostrar-me como era fácil não ser ela ali ao meu lado se fechasse os olhos por um instante e se deixasse levar na corrente daquela brisa que passava pelos nossos cabelos e simplesmente fosse...com retorno, sem retorno, infinitamente solta de quaisquer amarras.
Ela ali ao meu lado prestes a deixar-se cair.
Ela ali ao meu lado e eu agarro-lhe a mão porque sei que ela quer ir.
Ela ali ao meu lado a agarrar a minha mão porque quer ficar.

Derreter

Sinónimo de "noite em que nem depois de banhos de água fria se consegue dormir". Raispartam os inalcançáveis ares condicionados de nem sei bem quantos €€€€!!!

29 julho 2007

Boa onda!




... os desenhos do dia no blogue do João Catarino.

27 julho 2007

Agenda cultural

Descobri hoje que no próximo dia 29 de Julho, às 17 horas, o grupo Vozes da Rádio vai estar na FNAC do Chiado a apresentar o seu último trabalho Sete e Picos, Oito e Coisa, Nove e Tal.
Mais uma homenagem ao grande António Mafra.

Pior é impossível

À beira do vómito.
É que descobri aqui o novo projecto de Gonçalo Byrne para o novo Estoril-Sol. Vejam a pérola e e assinem ali. E estou com o zamot: bomba no carro do Stan. Já!
P.S. Quem são aqueles palhaços do vídeo a armar ao neo-beto? Sinceramente...

Got a secret

Eu insulto, eu erro, eu escandalizo. Ele diz-me: "Vais parar ao Inferno." Eu respondo: "Já lá estou."

Uma história exemplar

Era uma vez um rapaz. Era um rapaz qualquer, igual a tantos outros.

Um dia, acidentalmente, engoliu uma mosca.

Tempos mais tarde, a contra gosto, teve que engolir um sapo. Tomou um alkazeltzer para facilitar a digestão.

Outro dia, por curiosidade, resolveu engolir um coelho. Para o tirar de lá de dentro foi o cabo dos trabalhos, tiveram que chamar um mágico.

Mas nada a fazer, tinha tomado o gosto pela deglutição de animais. Começou a frequentar diariamente o zoo: nesse período engoliu um macaco, um koala, um pica-pau e até uma jibóia.

Depois passou a animais de porte maior: marcharam um tigre, um gorila, uma ema e um golfinho.

Bastava abrir a boca para se ouvir a selva lá dentro.

Um dia, resolveu concretizar o seu sonho supremo: engolir um rinoceronte. Assim o fez, mas aquele animal caiu-lhe mal. Ficou com azia e foi parar ao hospital.

Depois de libertos os animais, chamaram o psiquiatra de plantão. Prescreveu-lhe medicação e terapia. Passou a ir lá 4 vezes por semana.

Deixou de engolir animais, estava curado.

Morreu de tédio.

Vê-se mesmo que é 6.ª à tarde

Não descobri nada mais interessante para fazer do que andar a limpar o teclado.... É que nunca me tinha apercebido da quantidade inacreditável de porcaria que se acumula no espaço "intra-teclal" (aliás, e em bom rigor, nem me tinha apercebido da sua existência...).... Depois pensei na quantidade de vezes que em que, matutando sobre a frase que se segue, tiro os dedos do teclado e os levo à boca e vice-versa... a única conclusão científica possível é que estou cheia de germes e tenho de ir mais cedo de fim-de-semana!!

Ele há com cada surpresa....

Nunca imaginaria que este senhor se pudesse (re-re-re-etc) candidatar... e sempre por razões tão diferentes e, de cada vez, sempre tão válidas...

"Porto, 27 Jul (Lusa) - O candidato à liderança do PSD Luís Filipe Menezes afirmou hoje que a constante queda de popularidade do partido e do seu líder, Marques Mendes, nas sondagens foi uma das principais razões que o levaram a candidatar-se.

"É por isso que sou candidato. Se o PSD estivesse numa situação confortável (perante a opinião pública), eu não seria candidato", afirmou Menezes, em declarações aos jornalistas no final de uma visita ao Hospital S.João."

26 julho 2007

abaixo os rótulos!!

"Excerto de entrevista com Ringo Star"

Jornalista: Are you a Modern or a Rocker?
Ringo: huh....i'm a mocker.....

25 julho 2007

Ontem

É hoje.

O creme compensa

imagem aqui

- Olá mamã. Esta é a minha nova casa, gosta?
- Bom, filha, nova nova não é, mas que tem muito cachet, lá isso tem.
- [cachet, hahahahaha!]
- (...) (...) (...)
- E este louceiro tão giro, já viu? Acho que vou fazer uma proposta de compra à dona quando me for embora daqui.
- Faz isso, mas faz-lhe uma proposta muito baixa! Se quiseres eu trato disso.
- [wise mum'...]
- E deste móvel, lembra-se?
- Sim, é meu.
- Não é nada! A mãe deu-me quando eu saí de casa!
- Se calhar. Mas deixa-me que te diga que o móvel está uma miséria. Tens que lhe por cera. E ao louceiro também.
- Mas eu passo-lhes óleo de cedro...
- Não chega. Os móveis precisam de cera.
- Cera?
- Sim, cera para móveis. Tal e qual como nós, de creme para a cara. O creme compensa.

As teses, agora e sempre





recebido hoje por mail. clicar nas imagens para aumentar.

24 julho 2007

Receita para exterminar entusiasmos de verão

Ela 1: Estou tão curiosa com tudo isto, os recados, os olhares, as mensagens. Mas acho que vou ficar muito quieta no meu lugar. Não lhe respondo e isto acaba.
Ela 2: Não faças isso. Marca um encontro. Quando os homens falam, estragam tudo. Não há nada como deixá-los falar.

É impressionante

a quantidade de pessoas que eu vejo, todos os dias, a falarem ao telemóvel enquanto conduzem!

23 julho 2007

Frilance

Algumas de nós puseram para bem longe a ideia de um emprego para toda a vida. Os nossos pais tremem de cada vez que anunciamos que nos vamos despedir, mudar de país, mudar de vida. Tentam convencer-nos que somos já crescidas, que temos de ter um emprego e um salário e tudo o vem atrás, colegas, chefes, fretes, o esplendor da vida adulta das intrigas e das guerras no trabalho, os sapos engolidos com copos de água que envenenam os dias e as noites. Uma e outra vez, paramos e mudamos tudo. Arriscamos tudo. Largamos um salário catorze meses por ano, nãoseiquantos dias de férias, largamos os descontos para isto e para aquilo, a preocupação com a reforma, o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado.
Apesar da certeza de que não queremos os dias burocráticos, que não queremos estar ali (onde quer que ali seja) durante meses e anos sem fim, apesar da breve alegria de nos sentirmos livres para qualquer coisa que queiramos agarrar, apesar de tudo isso, há o penoso momento em que nos fazem a pergunta que não devem fazer: o que fazes tu na vida?
Podemos sempre testar respostas que deixem o nosso interlocutor sem vontade de saber mais, trafico armas, sou prostituta, não faço absolutamente nada. Ou podemos tentar responder mesmo, e damos por nós numa explicação confusa e interminável, que começa no tempo em que os dinossauros ainda falavam e termina no exacto momento em que nos atiraram a pergunta que não deviam ter feito.
Há dias, encontrei a resposta que, em três sílabas, sossega a pessoa que pergunta: frilance. Sou frilance. Depois destas três sílabas, não há mais dúvidas nem olhares pesarosos. E podemos voltar tranquilamente aos croquetes que ficaram suspensos em perguntas difíceis.

Perspectivas

Estão vários bonecos espalhados no chão do quarto de dormir do casal.

Uma vezes pensa-se com voz desesperada: raiaspartam, tudo sempre espalhado, nunca nada está no sítio, e apanha-se tudo rapidamente para guardar no sítio, grunhindo sempre.

Outras vezes pensa-se com voz embevecida: olha o noddy e o livro do popas, é tão lindo o meu mémé!!...e apanham-se os brinquedos com ternura, guardando-os no seu sítio.

Ainda outras vezes, recolhe-se tudo maquinalmente enquanto se pensa aceleradamente em como o Terceiro Sector se deveria coordenar para fazer lobby junto das agências financiadoras para poder garantir o fortalecimento da sua estrutura organizativa e promover assim políticas de conciliação entre o trabalho e as outras esferas da vida para os homens e as mulheres trabalhadoras......

dos blogues e da vida

imagem daqui

um passeio pelos blogues e descobre-se uma imitação da vida. Discussões, acusações e violência em todo o seu esplendor podem ser encontradas por aí. O que moverá estas pessoas?

22 julho 2007

à manhã


Uma peça sobre pessoas, o tempo que passa, o que fica e o que se perde. O que se ganha também. Um dia havemos de ser nós os velhos, seja lá o que isso for.
José Luis Peixoto, sobre o texto que escreveu para este espectáculo.
Até próximo domingo, dia 29 sempre às 22h, a ver no Teatro Meridional, em Lisboa.

Assobia e disfarça

Num restaurante, uma senhora pediu ao meu filho que a deixasse passar.
Obrigadinha, disse a senhora.
De nadinha, respondeu o miúdo.

20 julho 2007

O sexo

Vende. Porque assusta, provoca, desarma. Porque, como o amor, actua mesmo quando erra.

19 julho 2007

exame de consciência

Ao longo de vida até podemos aprender que há coisas que nunca perdoaremos a nós próprias. Difícil é aprender a viver com isso.

18 julho 2007

Alvíssaras a quem a encontrar


Lembram-se dela? Há mais de um ano que fugiu da enfermaria, onde deixou um bilhete que apenas dizia: "citando Barthes, que se lixe".
Dão-se alvíssaras a quem a encontrar.

E andamos nós muito contentes com as lâmpadas de baixo consumo da EDP....

Bem sei que o tema não é pacífico no blog, mas há que convir que o novo eixo de desenvolvimento económico e de alianças estratégias dos USA e da própria URSS está, cada vez mais, mais à frente, passe-se o pleonasmo.... Será que conseguimos mesmo imaginar o mundo que se avizinha onde a Velha Europa não passa de uma velha que, por boa educação, tem de se convidar para as festas e com quem a conversa não passa do "mais um cházinho tia?"

Somos uns fáceis

Afinal, parece que só os taxistas é que são desconfiados e nacionalistas.

17 julho 2007

O estado a que chegámos

Como nem toda a gente sabe de que é que o manyfaces fala com a história do zequinha e do cartão (dito assim parece uma rábula do Tonecas), aqui fica o vídeo demonstrativo.
Então não é que um dos miúdos dos sub-20 decidiu gamar o cartão vermelho ao árbitro quando este o mostrou a um dos colegas de equipe? Escusado será dizer que também ele foi mais cedo para o balneário. E que Portugal perdeu na mesma contra o Chile.


Que descolorirá



Aquarela de Toquinho, uma linda canção que sempre me faz ter presente o belo e o étereo da nossa vida. Aqui fica música e letra.

Nova Carta de Direitos Humanos (II)

Foto daqui

Artigo 2º - O direito a espreguiçar


Espreguiçar é uma das melhores coisas que podemos fazer, uma das melhores formas para reequilibrar o corpo, fazer uma pausa para (re)respirar pausadamente, reajustar o ritmo da vida ao ritmo interno de cada pessoa. E contudo, o acto de espreguiçar é considerado como impróprio nas nossas regras sociais, é feio espreguiçarmo-nos na rua, ao pé do/a chefe, das pessoas com quem fazemos cerimónia; só ao pé daquelas pessoas com quem temos um certo grau de intimidade podemos realmente dar maior liberdade ao nosso corpo. Ora, relativamente às outra formas de expressão corporal que têm a ver com o nosso funcionamento biológico interno, como os peidos e os arrotos, ainda é de alguma forma compreensível que não lhes seja dada tanta liberdade, pelo incómodo físíco que advém do fedor de um peido ou mesmo de um arroto quando vem aquele acidizinho ao de cima e se espalha pelo ar em redor, ainda que isto não reúna de todo consensos pois também se poderia discorrer sobre as maravilhas de não aguentar peidos nem arrotos e soltá-los livremente, da sensação de alivio prazenteiro que isto propicia ao corpo.

Mas o que aqui se pretende é sugerir amavelmente à excelentíssima senhora professora doutora, plebeia e precária sociedade, que abra espaço para que se instaure, tanto na vida quotidiana como na lei, e se possível na constituição, como também na Nova Carta de Direitos Humanos, o direito de cada pessoa, independentemente do seu sexo, género, idade, religião, orientação política, partidária ou sexual, a espreguiçar-se livremente onde lhe dê na gana, a respirar tranquilamente, a esticar o corpo sentindo-o músculo por músculo, pedacinho por pedacinho, a reencontrar o seu ritmo interno e só depois então continuar com o que estava a fazer antes desse momento precioso, único, que é o acto de espreguiçar.

16 julho 2007

Eleições

A propósito das eleições de ontem e deste post, lembrei-me das legislativas pós queda do Santana Lopes. Toda a gente se mobilizou para ir votar, até pessoas que não votavam há décadas tiraram o cartão de eleitor do fundo do baú. Depois de meses em república das bananas todos os votos eram importantes para mostrar o desagrado pela herança do Durão.
A minha avó, muito velhinha e já quase cega de uma doença degenerativa disse que se fosse às urnas votava no pessegão. A medo perguntámos-lhe quem era, suspirámos de alívio quando a santa senhora disse que era o Sócrates. Imbuída de espírito cristão e consciência cívica a minha irmã ofereceu-se para a levar a votar nesse domingo. Havia apenas um pequeno problema a contornar: como a senhora tem apenas visão periférica, não consegue ler e ainda menos pôr a cruz no sítio certo sozinha. Ligámos para a Junta de Freguesia, onde nos informaram que quem não vê não pode votar. Indignada com esta resposta, então os cegos não têm palavra nestas matérias?, liguei de imediato para a ACAPO. Disseram-me então que quem não vê pode de facto votar, mas para tal tem de apresentar o cartão dessa associação ou levar atestado do médico para a mesa de voto, para se fazer acompanhar de alguém que coloque a cruz por si.
Informei a minha irmã, que ficou de tratar de tudo. Chegado ao fatídico domingo recebo um telefonema - não posso levar a avó a votar, podes ir tu? Então e o papel do médico? olha, não tratei, mas se disse à avó que a levava a votar tens mesmo de o fazer, já sabes como é.
Pois, sei bem como é. Com a minha avó e o meu pai não há imprevistos, se se combina alguma coisa é para cumprir, dê lá por onde der. Sem saber bem como lidar com esta situação fui buscar a senhora, já toda arranjada para ir cumprir o seu direito e dever, meti-a no carro e fui pensando como raio ia contornar o assunto à boca das urnas.
Fomos à escola onde a minha avó vota, procurei a sua mesa e encontrámos bichas em todas as salas (bem diferente deste domingo). Fomos andando devagarinho até chegar a nossa vez. Aproximámo-nos da mesa, estendi os documentos da minha avó e anunciei-lhes o problema. Como um drama nunca vem só, a minha avó também é surda. Quando a senhora me dizia alguma coisa a minha avó dizia muito alto "o que é que ela disse filha?", e eu tinha de repetir tudo aos berros.
Com o meu ar mais tranquilo e sorriso idiota, anunciei-lhe que a minha avó é quase cega e que seria preciso que eu fosse com ela para pôr a cruz onde ela queria. A senhora, perplexa, disse-me que isso não seria possível. "AVÓ, NÃO ME DEIXAM IR, VAI TER DE IR SOZINHA". Ah, filha, mas eu não vejo nada, qual é aquele que eu quero? "É O QUARTO QUADRADO" oh filha, não percebo nada, não vejo, indica-me aí onde é que eu tenho de pôr a cruz. Discretamente pus-lhe o dedo ao lado do sítio certo "AQUI FILHA?". A mulher estava prestes a ter um ataque cardíaco. "não pode fazer isso, é ilegal". Sim avó, agora vá ali, tem aqui a caneta, ponha a cruz.
A minha avó pôs a cruz e saiu com o boletim na mão por dobrar, acenando-o à frente de toda a gente. "Oh filha, vê lá se pus a cruz no sítio certo". Nessa altura a presidente da mesa perdeu a cor e deixou de conseguir dizer frases completas. Dobrei o boletim de voto, enfiei-o na urna, recolhi os documentos e saí sorrindo a todos, como se a surda fosse eu.
Ainda hoje a minha avó está convencida que ajudou à vitória do Sócrates. Só eu vi que a cruz ficou ao lado do quadrado.

A fé

A fé não tem graça. É quando a perco que começo a fazer piadas.

Tudo tem um porquê

Diz-se por aí que a nossa alma pesa 21 gramas. Outro dia discutia sobre isto com uma amiga, pois eu não queria acreditar, às vezes a alma parece que pesa tanto, ainda mais que o corpo! Mas ela esclareceu-me: a alma é uma falsa magra...

É proibido, mas pode-se fazer...

Vou frequentemente à Quinta Pedagógica, um sítio óptimo para quem tem crianças pequenas. Ao longo de toda a quinta vêm-se tabuletas a dizer: “Por favor não dê comida aos animais”, mas apesar disso encontro sempre uma série de pessoas a dar comida aos animais. Às vezes dou-me ao trabalho de lembrar as pessoas da tabuleta mas em geral ouço a mesma resposta grunhida: ahh o cartaz!, mas aqui toda a gente dá...
Resolvi então ir falar com o guarda da porta que por acaso estava com o tratador dos animais. O diálogo foi mais ou menos assim:

Oitoecoisa: Os senhores desculpem, mas venho aqui tirar uma dúvida. Afinal é proibido ou não é dar comida aos animais?
Eles: Proibido não é, o que se passa é que não se pode dar qualquer comida..
O: Então mas porque é que estão ali os cartazes a dizer Proibido dar comida aos animais?
E: Ah, isso é porque há pessoas que às vezes trazem comida estragada ou como outro dia, que estava um homem a dar uma sardinha frita a um cavalo, coitadinho do bicho até podia morrer! E assim com a tabuleta a gente pode proibir.
O: Percebo, então está escrito que não se pode dar comida, mas pode-se dar alguma comida desde que não esteja estragada. E como é que vocês controlam isso?
E: Ó menina, a gente vê...
O: E conseguem sempre ver? E se alguém traz alguma coisa estragada e vocês não vêm?
E: Em geral vemos sempre..
O: Então porque é que não escrevem no cartaz que só se pode dar algum tipo de comida específico, ou escrevem para primeiro consultar-vos antes de dar comida?
E: Porque assim tinhamos mesmo de proibir e coitadinhas das criancinhas, ficam tão felizes a dar comida aos bichos....
O: Compreendo que seja para o bem das criancinhas, mas digam-me uma coisa, os animais podem comer a todas as horas do dia?
E: Bem, poder não podem, porque eles se alguém lhes dá comida estão sempre a comer e isso não é bom, eles deviam comer como nós, três vezes por dia.
O: Compreendo. Então é bom para as criancinhas mas não é bom para os animais. Já agora, digam-me outra coisa, o que acham os senhores do facto de darmos duas mensagens diferentes e contraditórias às crianças? Por um lado escrevemos a regra em toda a Quinta, que como vocês disseram até tem razão de ser, por outro dizemos-lhes que essa regra não é para ser cumprida, pois toda a gente dá comida aos animais e vocês deixam desde que não esteja estragada, pelo bem das criancinhas. Estamos já a ensinar-lhes que as regras são uma mera referência, não são para ser cumpridas...
E: Pois, desde esse ponto de vista a menina até tem razão, se calhar devia-se pensar noutra forma de pôr a regra...

A conversa depois derivou sobre o estado do país e a nossa tendência para não cumprir regras, e o primo do porteiro que pagou uma multa por estar a falar ao telemóvel... Mas para mim foi bastante ilustrativa sobre a forma como assimilamos e reproduzimos as regras da nossa cidadania. As regras existem para ser cumpridas, mas só de vez em quando....

não sei porquê,

mas nada como entregar o papel com a marcação das férias para nos fazer sentir melhor com o trabalho....

Silly Blogger


Intrigada pelo facto de aparecer no perfil de muitos bloggers o signo do zodíaco, bem como o respectivo signo chinês, fui verificar do que se tratava, se era uma escolha própria ou um default do blogger. Fiz o teste, introduzindo a data de nascimento deste blogue: 31.05.2006. Apareceu-me imediatamente uma mensagem de erro que dizia que para utilizar o blogger tem que se ter no mínimo 13 anos. 13 anos? Ok. Pus, então, a data do meu nascimento. Confirmando a minha suspeita inicial, apareceu o signo do zodíaco e o signo chinês, entre outra informação.

Quer, então, isto dizer que o blogger anda a impingir astrologia à sua vastíssima comunidade?! Vão-me desculpar aqueles que acreditam em semelhantes disparates, mas aqui me confesso e assumo como uma céptica, positivista, racionalista: não acredito nas tangas impingidas pela astrologia, desde as previsões diárias para os respectivos signos, passando pelos mapas astrais, trânsitos e o diabo que carregue essa treta toda. Se Freud não explica neste caso, pelo contrário a Astronomia é muito esclarecedora no logro que é a so-called astrologia. Vejam estes artigos aqui e aqui e tirem as vossas conclusões. A grande e maior evidência - que antecipo desde já - é que andamos enganados quanto ao respectivo signo. Quem pensa que é gémeos, por exemplo, desengane-se: é caranguejo. E por aí adiante, obviamente. Tudo isto porque a terra se deslocou, colocando-a numa posição diferente relativamente aos outros planetas.

Já agora, gostava de saber como é que os astrólogos descalçaram a bota quando Plutão foi retirado do sistema solar, por não passar de um mero asteróide. Afinal não se atribuía à passagem deste ex-planeta a responsabilidade por hipotéticas adversidades e dificuldades? E agora? Quem carrega a culpa?

Já é a segunda vez que pergunto: onde é que está o livro de reclamações?

Johnny Cash - God's Gonna Cut You Down

15 julho 2007

de crianças e votos

Fui votar e levei o meu filho de sete anos. Instalou-se o medo na sala quando o miúdo disse "se eu pudesse votar, sei em quem votava". Mas não podes dizer!, gritaram em coro, tens de ficar calado. No minuto seguinte, o medo transformou-se em pânico: o presidente da mesa levantou-se, um dos outros agarrou a criança que me seguia até à cabine de voto. Explicaram com ar grave e sério que só permitiam bebés de colo na cabine; uma criança como aquela já poderia influenciar o sentido do voto.

Deve ter sido por isso que votei em branco.

Encolhe a barriga e estica o peito*

Durante cerca de 10 anos, tive um peso constante, que oscilava entre os 58 e os 62 kg. Para a altura que tenho, o peso não chegava para me sentir com mais do que devia, mas também não me podia considerar propriamente magra. Isto entre os 20 e os 29 anos.

Depois, tive uma perda de peso vertiginosa e durante outros tantos anos - cerca de 7 - o meu peso manteve-se constante, entre os 51 e os 55 kg. Aqueles que me encontravam e que não me viam há muito não se coibiam de dizer 'ai que magra que estás', entre outros mimos. Nas fases em que estava mais escanzelada, não me apetecia muito sair só para não ter que ouvir os inefáveis comentários acerca do meu peso. No meu caso, sentia que havia uma associação entre a magreza, fealdade e falta de saúde.

A minha questão na altura era: porque que raio se comenta a magreza em alto e bom som, sendo que o inverso não é verdadeiro? A não ser que haja um nível de confiança grande, não é frequente ouvir-se dizer a alguém com uns quilos a mais 'ai estás tão gorda'. Este tipo de comentários roçam a grosseria e a má educação, são passíveis de ferir sentimentos e susceptibilidades. Ora, se no 'peito das magras também bate um coração', porque raio não existe um filtro social para os comentários em relação a estas? É uma questão que me coloco.

Acontece que neste último ano recuperei uns quantos quilos e voltei ao peso de há cerca de 7 anos. Quem me vê agora diz que estou 'com muito melhor aspecto' (muito embora olhem de esguelha para algumas 'carnes' mais protuberantes). Por outro lado, eu que andei tantos anos a 'esconder-me' por causa da magreza, tenho agora uns quantos 'problemas' com os quais não contava:

- passei do nº 34 para o nº 38. Praticamente toda a roupa que tenho não me serve: calças, t-shirts, calções, acho que só se safam as saias.

- não engordei proporcionalmente, ou seja os quilos a mais distribuíram-se por zonas que dispensava mais avantajadas.

- estou perante o seguinte dilema: renovo o guarda-roupa (o que me vai sair MUITO caro) ou tento perder os quilos que recuperei?

- porque é que nunca se está satisfeito com o que se tem, neste caso em concreto, com o aspecto físico?

Enquanto rumino estas questões, vou encolhendo a barriga e esticando o peito…

* ou 'Post de domingo à tarde não muito ou mesmo nada inspirado, já que o resto das múltiplas não posta desde 6ª feira e há que alimentar este monstro, onde é que elas andam, devem ter ido a banhos, enquanto espero o resultado das eleições para a CML, ouvi dizer que a participação nestas eleições rondava os 15-20%, mas eu não me sinto com responsabilidade nessa taxa fraquita, já que não votei uma vez que nunca mudei o meu local de recenseamento, embora já viva nesta cidade há 8 anos, devia ter vergonha na cara, mas antes vou ali à FNAC comprar um mp3 bem catita, mas melhor melhor pensado mesmo era ir comprar um ou dois pares de calças, mas eu detesto ir escolher roupa, portanto vai o mp3, que se lixe'.

13 julho 2007

Teste de gravidez online

8 e coisa decidiu inovar e ser o primeiro blogue a fazer um teste de gravidez online. Isto é, as etapas que se seguirem serão efectuadas em quase tempo real (apenas com o delay necessário para escrever as etapas), sendo o resultado anunciado aqui. Comecemos então o teste:

- desembalar o teste, retirando-o da caixa e rasgando o invólucro de plástico;
- ler as instruções atentamente, com as mãos ligeiramente a tremer;
- retirar a tampa do teste e impregná-lo da necessária urina;
- colocar o teste em cima de uma superfície lisa:
- esperar os 5 minutos mais longos da vida;
- fumar vários cigarros, enquanto se roi as unhas;
- voltar ao local onde se colocou o teste e olhá-lo de esguelha;
- fumar mais um cigarro;
- pegar novamente nas instruções e ver a interpretação do resultado: 'se aparecer uma linha azul na janela maior, então é porque o seu teste é positivo e está grávida';
- dirigir-se muito lentamente em direcção ao teste, olhar para as duas janelas, respectivos riscos e...
[a tensão arterial desceu subitamente a oitoecoisa, que entretanto desmaiou, pelo que não pode divulgar o resultado agora. Pedimos desculpa pela interrupção, retomaremos a emissão assim que possível].

A cabra

Sendo mulher talvez não devesse escrever isto, mas acho que a solidariedade de género não é extensível à cabra: aquela filha da-que-todos-sabem-quem-é com quem alguns infelizes têm ou já tiveram de trabalhar um dia e que faz a vida negra a toda a gente pelo puro prazer do "porque posso "!


Mais do que a "mulher de mau génio que berra muito" (única definição aproximada que encontrei aqui), a cabra é a mulher de mau carácter e intelectualmente desonesta que está sempre pronta a imolar o próximo - sem a menor hesitação - para eliminar a concorrência ou só pelo puro prazer de se exercitar no xadrez do poder, antecipando acções, reacções e omissões, direccionando-as para o resultado que pretende. O mais das vezes, por capricho. Claro está que, se a cabra tem uma posição hierárquica superior à nossa, estamos literalmente feitos ao bife na cadeia alimentar e não há nada (ou há muito pouco) que nos valha. Se está na mesma posição ou atrás de nós, a cabra luta afincadamente para nos passar à frente, potenciando ao limite do inimaginável as cabranices sucessivas, normalmente impossíveis de prever aos homens e mulheres de boa fé. Ou, já agora, aos homens e mulheres de fé "mais ou menos", aquela que não é boa nem má mas que, ainda assim, existe.


E sim, este post é um exercício de catarse motivado por uma grande cabra em particular!!Só não se oferecem alvíssaras pela captura dos chifres e barba da mesma porque quer-me cá parecer que o Ministério Público ainda podia pensar em "mandante do crime de homicídio qualificado precedido do crime de tortura" e isso era chato....


Lisboa

Lisboa é a minha cidade, o meu espaço de vida, e é com imensa tristeza que constato a crescente abandono desta linda cidade. É urgente resgatar Lisboa à degradação que vem sofrendo nos últimos tempos, por isso dia 15 cada um e cada uma porá a cruzinha onde acreditar que estará a contribuir para o bem da nossa cidade. Eu por mim, depois de alguma hesitação, já me decidi. Como voto (quase) sempre na oposição, pois acredito que é o mais saudável para um sistema democrático, tinha 3 possíveis escolhas, mas, infelizmente, só me dão um voto e lá tive de tomar uma decisão. E entretanto pus-me a pensar que, para além de toda a necessária restruturação do funcionamento da Câmara Municipal, há algumas coisas que eu gostava que fossem possíveis em Lisboa.

- que houvesse uma ciclovia que ligasse todos os bairros de Lisboa, passando pelas bibliotecas municipais, devidamente construída, sinalizada e arborizada.
- que os jardins de Lisboa fossem recuperados, outros novos construídos e todos tivessem parques de estacionamento para bicicletas, caixotes de lixo e bebedouros em condições, animação cultural e actividades informativas ao nível da saúde.
- ver a Piscina dos Olivais recuperada e de novo devolvida ao uso público.
- que o Vale do Silêncio, o maior espaço verde público dos Olivais, fosse recuperado e dinamizado, que tivesse um mobiliário urbano adequado, um circuito de manutenção (que por alguma razão que desconheço desapareceu), e um parque infantil.
- que a rede de metro ampliada e que fosse possível transportar bicicletas neste meio de transporte.
- que a zona ribeirinha pudesse ser para uso de todas as pessoas e não servisse unicamente o Porto de Lisboa.

E por último, gostava que fossem criados meios eficazes que de facto permitissem a participação de todas as pessoas que aqui vivemos, evitando que a construção da cidade esteja unicamente nas mãos daqueles que têm assento na Câmara Municipal. Alguém quer acrescentar alguma outra coisa que gostasse de ver acontecer em Lisboa?

12 julho 2007

Atentado ou brincadeira parva

- acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, votado por unanimidade.

Oh... James....

Confesso que já tinha pensado como seria a vida daqui para a frente sem uma nova aventura de um dos meus heróis de sempre: Mr. Bond, James Bond.
Parece que a história será a de "um James Bond avançado na idade mas com a sexualidade intocada. "É o regresso do pistoleiro para uma última missão heróica"". Com sorte, ainda temos outra vez o Sean Connery!! O Pierce também não era mal pensado... (confesso que o Daniel Craig - apesar de bom actor e com os abdominais em belíssimo estado - só me faz lembrar os Yuris do tempo da guerra fria...) A título de curiosidade, vejam aqui a rotina do velho Ian... assim se explicam os martinis!!

Desciclopédia

A propósito do post abaixo, o amigo que me passou o link do artigo propôs-me uma alteração interessante aos temas dos livros: em vez de pinguins usar ornitorrincos (ou também ornitorrincos e outros animais), assim juntava-se a tolerância e educação sexual à zoologia. Porque ser exigente é importante, também na (e para a) diferença.


Pesquisando sobre ornitorrincos, duas múltiplas já habituadas a trabalhar em sociedade (uma entra com o dinheiro e a outra todos os dias às 9 da manhã) fomos parar à desciclopédia. Entre outras coisas, descobrimos que a origem do ornitorrinco monotremado holandes é motivo de discussão entre estudiosos de diversas áreas até hoje.

Intrigadas sobre o que teriam os autores deste fundamental site a dizer sobre a wikipedia, lemos que "a enciclopédia livre que qualquer idiota pode editar," é uma paródia satírica da Desciclopédia, apesar de ela afirmar o contrário (e afirmando corretamente que a Desciclopédia afirma o inverso, e assim sendo o ao contrario da Wikipédia). Alguns dizem que é um banco de dados incluindo coisas como: listas de trens, personagens de Mortal Kombat, vilões figurantes dos jogos de Mario, nome de naves de Space Invaders, jogos de Atari, nome de estradas, lista de escolas públicas, bandas de garagens, gatos, departamentos da França, espécies de tulipas, episódios de Chaves, personagens do Power Rangers, universos distantes, atores de novelas mexicanas, personagens de Mortal Kombat que não existem, e algo que eles chamam de artigos. Portanto: a Wikipédia é um jogo online massivo de edições jogado por experts em redundância, ceticismo, pseudociência, pedantismo, fazer hyperlinks, reverter artigos, exigir fontes confiáveis(ou seja, que eles concordem com o conteúdo), verificação, e iniciar flamewars súbitas pelo que é enciclopédico. A Wikipédia é uma perda de tempo total regida pelo Jô Soares ao vivo de um estúdio no Acre. É um fato científico provado que após ler este site, a Wikipédia é uma bosta. A Wikipédia é, em definição científica, a Desciclopédia Bizarra.

Ficámos esclarecidas.

Outros artigos de interesse versam sobre a China, inteligência, hipótese, a revista Veja, eu e a tua mãe.

Quem tem medo do lobo mau?

Todos os anos há mudanças de livros escolares, coisa que os pais sempre lamentam por não poderem usar os que já tinham dos filhos mais velhos. O Reino Unido levou esta ideia um passo mais à frente: lançou o projecto No Outsiders, que implicou introduzir no curriculum das escolas primárias, que abrange crianças entre os 4 e os 11 anos, histórias infantis onde os protagonistas são gays e/ou lésbicas.
"King & King", sobre o príncipe que se apaixonou por outro príncipe, "And tango makes three", o pinguim com dois pais (ganhou o young readers award da american library association) e "Spacegirl pukes", a menina que tem duas mães e faz uma viagem espacial.
No Reino Unido o casamento homosexual é legal desde 2005. Este é o passo consequente com a decisão de alterar a legislação. Congratulations Mr. Blair.

11 julho 2007

Bem empregada, mal empregada, desempregada

Salvo por curtos períodos de tempo, sempre fui trabalhadora independente, ou seja, com trabalhos com fim à vista, toma lá recibo verde, dá cá dinheiro. Mas nunca tive falta de trabalho, encontrei sempre trabalhos de que gostava muito, onde aprendia e em que sentia que era reconhecida. Nessa altura, não percebia que era uma trabalhadora precária nem o que isso significava e não me preocupava com estas questões. Quando tive a minha filha, por várias razões que serão motivo de outra crónica, estive cerca de um ano sem trabalhar e estava nessa altura a viver noutro país. Mas passado este tempo voltou em força o desejo de trabalhar e receber dinheiro por isso, de poder contribuir para o mundo com aquilo que sei fazer . Coincidiu esta altura com o meu súbito regresso a este país à beira mar plantado, devido à doença da minha mãe. Nem sei ainda bem como, consegui rapidamente um trabalho de investigação que me ajudou a adaptar-me , mas claro, durante apenas 8 meses e a recibos verdes. Depois disso, vieram ofertas que implicavam mudar de cidade o que de facto eu não queria, pois implicava estar longe da família e da minha mãe. Apercebi-me que 6 anos é um tempo muito grande e que eram poucas as redes sociais profissionais que eu tinha. Eram poucas as coisas a que podia concorrer, poucas as respostas que tinha e poucas as entrevistas para as quais fui chamada.
A sensação do desemprego começou a ser mais forte. Estar desempregada fez-me sentir uma série de emoções antes desconhecidas, medo do futuro, medo da idade, falta de confiança, crises gerais e particulares, insegurança face ao trabalho e às minhas capacidades. A desocupação implica também dificuldades económicas, perde-se capital económico e surge a impotência de consumo, perde-se capital social e cultural, referentes fundamentais na vida da cidade, surge o isolamento, o dia a dia limita-se cada vez mais, parece que quanto menos dinheiro se tem menos se vai ter, há alturas em que não se vê a saída, a pobreza económica parece uma inevitável catástrofe. O mundo lá fora julga que tens dinheiro, porque vives numa boa casa e até tens boa pinta e, por dentro, não se sabe onde conseguir dinheiro para um bilhete de ida e volta de autocarro. Em geral, a pobreza é vivida como algo clandestino, e parece não encaixar em quem é da classe média, tem um curso superior e uma forma de vida diferente daquela que se associa aos “pobrezinhos”. Pensei em solicitar o rendimento mínimo, mas nem eu mesma me convencia que era de facto pobre, não me sentia com direito para o fazer com tanta gente de facto a precisar. Por isso continuei a ser simplesmente desempregada. Senti muitas vezes que me olhavam com desconfiança ou comiseração, que diziam que não era desenrascada e valente ou que era uma burguesa acomodada, pois não cumpria com o que se esperava de mim, se estava desempregada é porque alguma coisa se passava. De todos os lados surgiram conselhos e sugestões sobre o que poderia fazer, claro que com toda a boa intenção do mundo, mas houve uma altura em que parecia toda a gente parecia ter a solução para a minha vida menos eu mesma. E às vezes, as pessoas até pareciam ficar ofendidas ou desiludidas comigo quando não queria procurar determinada oportunidade que me indicavam (para elas fantástica, para mim desadequada daquilo que eu queria ou que me julgava capaz), ou olhavam-me de lado quando rejeitava a utilização de cunhas, factor normalizado para conseguir emprego por estas bandas, como se o mérito próprio fosse algo secundário.
E a confiança decresceu cada vez mais, dizem-me que tenho um CV fantástico e só consigo esboçar um sorriso amarelo; de cada vez que envio um CV é inevitável que surja de imediato a sensação de “isto não vai dar em nada”, ao contrário das alturas em que de cada vez que mandava um CV acendia uma velinha e pensava com muito força em como ia ser bem recebido.
A única coisa que me safa neste momento é acreditar sincera, mas talvez estupidamente, que o facto de ter terminado de fazer a minha tese (precisamente sobre o tema da conciliação entre o trabalho produtivo, o trabalho reprodutivo e o ócio), me vai permitir iniciar um novo ciclo da minha vida. Dentro do meu ateísmo, o que me salva é a fé.

10 julho 2007

Há muito tempo

Há muito tempo que não protesto, há muito tempo que não escrevo um post, há muito tempo que começo a deixar que a dúvida se instale no sofá da minha alma junto com o medo do futuro, afastando o optimismo que eu julgava vitalício. Não me surge nenhuma ideia excelente para resolver a minha vida, nem nenhum plano B infalível. Só a espera e a tristeza, a tristeza e a espera, aquela que já não pensa que alcança mas que se desespera.

Será isto a depressão pós-tese?

Programa das festas

2007 é o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos.

Este fim de semana celebra-se a festa da diversidade, no Terreiro do Paço em Lisboa. Teatro, música, dança, gastronomia, debates, workshops e mais. Porque é bom sermos diferentes.
(Programa completo aqui.)

movimento de honestidade radical

"E se de repente todos começássemos a dizer a verdade e nada mais que a verdade a tudo e a todos?"

O movimento de honestidade radical nasceu nos EUA tendo como mentor um sexagenário pesicoterapeuta, Brad Blanton que afirma que a felicidade plena só pode ser atingida dizendo a verdade a todo o momento, livrando-nos do filtro que existe entre o nosso cérebro e a nossa boca e dizendo tudo o que pensamos como pensamos a toda e qualquer pessoa, em qualquer momento e a toda a hora.

Depois de ler este artigo da revista focus deixei a minha mente flutuar pelos recantos do passado e fui-me lembrando de todas aquelas situações mundanas, íntimas ou casuais por que passei e imaginei-me a ter seguido este belo conselho ao invés de ter escamoteado os meus pensamentos verdadeiros sobre variadíssimos assuntos. Por exemplo, deveria ter dito ao guarda que me passou aquela multa indecente, para ele ir mas é limpar o grande macaco que lhe estava a sair por um narina em vez de estar ali a chatear a malta com figuras tristes? Deveria, por exemplo, ter dito àquele gajo ao meu lado na cama, ouve lá, vê lá mas é se te despachas tu mais o teu sexo tântrico de bolso e te vens duma vez que eu tou a passar a maior seca da minha vida? Deveria mandar à merda todos os funcionários da repartição de finanças sempre que lé meto os pés? Deveria agarrar todos os supostos amigos pelos ombros e dizer-lhes para enfiarem o sorriso pelo cu dentro ao invés de os ter ignorado?

Deixo o repto para lançarem aqui a vossa opinião sobre este assunto. Quanto a mim, acho que o psicoterapeuta de meia idade que lançou este movimento deve estar neste momento a viver dentro dum quarto trancado de cara pintada de preto e com a cabeça a prémio. Subscrevo as palavras de uma das queridas múltiplas, "Honestidade radical é pior que gás pimenta".

Uma vez por ano

Conheceram-se há uns anos, não sabem bem quantos. Viam-se uma vez por ano, rodeados de amigos, da mulher dele e do marido dela. Quem olhasse com atenção descobriria olhares contidos. Mas ninguém se lembrou de reparar no meio do barulho e da espuma do dia.
Ela sentia que sim, ele sabia que sim. Mas não era, não podia ser, havia o mundo à volta e as pessoas que nele vivem, os filhos que nasciam, a distância que nenhum arriscava atravessar.

09 julho 2007

Monólogos a dois

Ela estava sentada calada quase imóvel com um sorriso seráfico. Quem a visse quase acreditava que ouvia o que homem à sua frente dizia, qualquer coisa indistinta sobre mudanças de casa e separações. Ele terminou. E ela regressou à história das férias na ilha do pacífico e às aventuras nos corais.

Serão todas as conversas pouco mais do que monólogos a várias vozes?

08 julho 2007

História trágica com final feliz

Há uns tempos a sem-se-ver falou-me desta animação. Na altura ainda não a tinha visto. Mais tarde, fui ao cinema e antes do visionamento do filme - O Caimão, Nanni Moretti - exibiram esta ´história trágica com final feliz', um bom trabalho de Regina Pessoa. Ora vejam.

07 julho 2007

Amigas do seu amigo

Para além de desligar os aparelhos no botão em vez de os deixar em stand by, aparece agora uma nova ideia para poupar energia em casa, o que significa ajudar o ambiente e evitar oferecer dinheiro à EDP.
Partindo deste dado, o blogger norte-americano Mark Ontkush escreveu sobre a economia que poderia ser feita se a página do Google possuísse um fundo preto em vez de branco. Tendo em conta a enorme popularidade do site, seriam economizados cerca de 750 megawatts/hora.
Os meninos do google não esperaram pela demora e desenvolveram a blackle, que é quase igual à versão original mas toda em preto. E deram-se ao trabalho de explicar porquê.
Como já notaram, este blog é em fundo preto. Logo, desde a génese fomos amigas do ambiente mesmo sem saber. Deve andar por aí uma das múltiplas a murmurar que Freud explica, mesmo nestes detalhes. É bem capaz.

06 julho 2007

Evidentemente

Eu quero morrer. E, se puder ser, da mesma curiosidade que matou o gato.

05 julho 2007

Um rapaz chamado Sue

Ando há muito tempo com o tema da importância do nome na construção da personalidade a girar-me na cabeça. Por um lado "a rose by any other name would smell as sweet", por outro através daqui descobri que uns senhores da Universidade da Flórida descobriram uma relação estatisticamente significativa entre a feminilidade do nomes e a apetência para estudar matemática ou física (nada dizem sobre a masculinidade). Apesar de aquelas que o fazem contra as probabilidades terem o mesmo sucesso que as demais, a tese defendida é de que o nome com que nos apresentamos à sociedade faz com que as expectativas que tenham sobre o nosso comportamento o condicionem realmente. Uma menina chamada Isabella é considerada muito mais feminina que uma Alex, logo espera-se que se debruce sobre temas mais, digamos, cor de rosa. Estes senhores defendem que realmente o fazem.
E o que dizer sobre a adequação de nomes difíceis a fisionomias. Imaginam o Marques Mendes a chamar-se Apolo de nome próprio? Se a Margarida Rebelo Pinto se chamasse Gertrudes Calado escreveria na mesma? Ou se o Cavaco Silva em vez de Aníbal fosse Marlon, seria levado a sério?
A propósito disso deixo-vos o boy named sue do Johnny Cash. Sobre o efeito de um nome de mulher num homem.


R2

Quem não seguiu atempadamente o conselho da agenda cultural 8ecoisa já não vai a tempo: estão esgotadas todas as sessões do R2 no Teatro Nacional D. Maria II, em cena até dia 8 de Julho. Podem sempre tentar a sorte, esperando que alguém que fez a reserva não apareça.
8ecoisa foi lá e viu. 14 jovens da Cova da Moura, Zambujal e Cova dos Machados a defenderem-se muito bem numa encenação bonita, arrojada e interessante, encenação muito bem conseguida, Ricardo II revisto e reinventado como um presidente da Junta de Freguesia corrupto, rodeado de pessoas não melhores que ele e que o conseguem substituir sem eleições.
Grande parte da peça é representada em crioulo, língua mãe da maioria dos actores, muitas vezes ininteligível mas passando perfeitamente a mensagem geral desejada. A música bem posta, a dança (tanto de ritmos cabo-verdianos como rap) bem enquadrada, o canto sóbrio.
O interesse deste projecto não está tanto na qualidade da representação (ainda que seja de salientar Vítor Monteiro como Ricardo, ou melhor Riqui) mas na ousadia de se fazer a actualização do texto de Shakespeare à realidade quotidiana num ambiente limite de bairros carenciados e apresentá-lo no teatro nacional, com uma qualidade técnica excelente.
Aqui fica a reportagem da sic.




Momento Hedda Hopper: entre a audiência encontrava-se o Presidente da Junta da Freguesia de onde são residentes muitos dos actores - saiu no fim da representação, sem passar a cumprimentar os artistas. Outra das pessoas presentes foi o Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, um dos poucos que não aplaudiu de pé os 3 encores (olhava em volta espantado pela persistência das palmas à segunda vez que os actores voltaram para as agradecer). A direcção da Associação Cultural Moinho da Juventude também marcou presença, mas estes aplaudiram de pé e partilharam o beberete que se seguiu, tal como o ex-director da sala experimental do TNDMII.

04 julho 2007

Simplesmente

Ela diz que não quer ser cremada. Também diz que não quer ser enterrada. O que ela não diz: ela simplesmente não quer morrer.

Tapa na pantera (repetição)

Há séries e filmes de tão bons que são que merecem um segundo visionamento. É o caso deste vídeo, postado há uns meses e reposto hoje nesta chafarica.

Vejam, porque... o riso é, sem dúvida, um grande radar!

03 julho 2007

Verdade e consequência



Passei pelo parque da saúde. Cruzei-me com 3 ou 4 doentes (ou utentes, é mais asséptico) do Júlio de Matos. Estavam todos medicados até à ponta dos cabelos, faziam-me lembrar os bichos no jardim zoológico, só que em vez de grades de metal tinham a alma presa nos fármacos.



Duas horas na oncologia de Santa Maria. A sala de espera cheia de gente, bicha de 10 pessoas para atendimento na secretaria. Uma senhora pediu ajuda porque não tinha forças para empurrar a cadeira de rodas em que a tinham levado para cima e precisava de a devolver. Um senhor que tinha sido operado à cabeça, cheio de ligaduras e cansado, irritou-se com a solicitude de uma mulher que o acompanhava "preciso dos seus documentos, posso tirar a carteira? Dá licença? Obrigado". Sorri com a sua impaciência, também a mim me enervaram as palavras paternalistas e condescentes dos seus acompanhantes, como se por ser velho e doente se tivesse tornado um imbecil.
O médico pede-me desculpa por me ter feito esperar tanto, sabe é que todos os outros hospitais oncológicos estão cheios e mandam toda a gente para aqui, não temos pessoas nem meios para lidar com isto. Eu compreendo. Lamento-o.
Fui à farmácia de dia levantar os comprimidos. Vi uma senhora bonita, elegante no seu sofrimento, andava com dificuldade. Atrás de mim cruzou-se com o enfermeiro, com os óculos de ver ao perto pendurados na ponta do nariz e amarrados ao pescoço com uma corda. Oiço-o "a senhora tem de se consciencializar que tem esta doença e aprender a viver com isso. Está bem? Boa tarde".

Bibliotecando por aí

Num destes dias de rara primavera, resolvi sair do buraco (leia-se casa) e dar um passeio a pé. Objectivo: foto-sintetizar. Fechei a porta de casa e comecei a descer a rua. ‘Para onde vou’?, pensei. Subitamente, esta questão pareceu-me demasiado metafísica para os meus propósitos nesse dia, afinal a acção deveria sobrepor-se à reflexão, já farta de pasmaceira estava eu, dias e dias enfiada em casa a atrofiar-me a mente e o corpo.

Cheguei à avenida principal e aí parei, observando a turba de turistas, despejados aos magotes de autocarros provenientes dos sítios mais improváveis. À minha esquerda, uma fila ordeira de turistas esperava pacientemente a sua vez para comprar os tão afamados pastéis de Belém. Olhando à direita, outras tantas centenas de pessoas em grupos comandados por guias turísticos, acenando bandeiras de sinalização e falando mais alto do que o volume da sua voz poderia suportar. Babel parecia ali.

‘Para onde vou’? Desta vez não se tratava de metafísica, mas de uma pergunta bastante concreta. Hummm… Já fui ao Mosteiro dos Jerónimos, ao Planetário, ao Museu da Marinha, ao jardim do Ultramar, não me apetece o CCB… Eureka! Qual Arquimedes fascinada com a teoria da impulsão, descobri o que realmente me fazia falta: e não é que fazia mesmo? Virei à esquerda e entrei na Rua da Junqueira, percorri os 500 metros que faltavam e franqueei os portões de um antigo palacete reconvertido em biblioteca municipal. Era chegado o momento: fui fazer-me sócia das bibliotecas municipais de Lisboa.

O rapaz da recepção tratou expeditamente da minha inscrição. Saí da recepção, exibindo orgulhosamente um novíssimo cartão que não só me dava acesso aquela biblioteca, como a toda uma rede municipal de bibliotecas. Subi as escadas e percorri longa e demoradamente as salas. A catalogação dos livros não era a melhor, mas o silêncio era o de sempre nas bibliotecas (sinónimo de agradável). Mesas e pessoas a ocuparem as mesas. Sala para leitura de periódicos (jornais e revistas). Descobri que o que não imaginava: há vida nas bibliotecas.

Fui, então, à procura do volume de ‘Anna Karenina’, não encontrado até à data em livraria alguma. Lá o encontrei. O tamanho desmesurado da edição disponível (e a tradução, que adivinhava manhosa) bem como o apelo de livros de autores mais recentes dissuadiram-me de o levar. Desci novamente ao 1º piso com cinco livros e um dvd. Detive-me a olhar para o burburinho feito por vários adolescentes que esperavam a sua vez para aceder aos postos de internet disponíveis, controlados ferozmente por uma funcionária. Ainda neste piso, várias salas de literatura infanto-juvenil: a colecção de E. Salgari ali à mão de semear, a Enyd Blyton,… tudo.

Nessa mesma noite telefonei à minha irmã mais nova e comuniquei-lhe o feito, incentivando-a a fazer o mesmo. No outro dia, recebi um telefonema de volta:
- Mana, sabes o que fui fazer agora na minha hora do almoço?
- Não, o quê?
- Fui-me fazer sócia da Biblioteca do Palácio das Galveias. E voltei de lá com dois livros que queria mesmo ler!

Claro. Ela sempre foi muito mais ponderada do que eu: dois livros lêem-se em 15 dias. Requisitar cinco livros só mesmo eu. Lê-los neste arco temporal, apenas nos meus melhores anos. Mas, vá lá, hoje consegui ler um* de uma ponta à outra.

*Ácido sulfúrico, Amélie Nothomb (acintosa e excelente sátira aos reality-shows)

universos paralelos


01 julho 2007

Tic tac, tic tac

Alguém me chamou?

A rose is a rose is a rose



Em todas as manhãs, um encontro. Em todos os dias o meu começo, calado, atento. Para nos aprender. Para nos desfolhar. Para nos abraçar gentilmente enquanto ainda somos.Para sempre que o formos. Em todas as manhãs, começo quando começas em mim.

Interlúdio poético II - da temática do meteorismo

Fui lá baixo e dei um pum
e nesse momento bebeu-se rum.
- José V., 2007

Contributos para a interpretação da obra completa de José V.


"«Fui lá baixo» é a primeira obra poética conhecida de José V., escrita aos 7 anos. Apesar da juventude do autor no momento da criação, é sem dúvida uma das suas obras mais bem conseguidas do periodo dedicado ao meteorismo, muito rica do ponto de vista literário. Nele confluem diversas correntes, o realismo, o surrealismo... mas acrescenta-lhes um toque de clarividência que veio a determinar todo o rumo do seu trabalho posterior." Jornal de Letras

"O imperativo vital do meteorismo, a vida, o lado animalesco do ser humano. E, ao mesmo tempo o lado convivial - «bebeu-se» indica um plural, um colectivo; rum remete para o imaginário das viagens, do exótico, da alteridade." The Times Literary Supplement

"José V. revelou desde cedo a natureza poética. Apenas com sete anos, sua mãe conheceu o esplendor da sua criatividade poética ao registar, segura que estava perante o embrião de algo grandioso, esta verdadeira pedra basilar de toda a poesia moderna." The New York Review of Books